quinta-feira, 16 de julho de 2009

A rosa branca


As espumas cobriam o corpo, deixando pequenas mostras de seus contornos a vista. Contemplando o corpo nu, Adele percebia que o contraste do branco da pele com o vivo vermelho dos cabelos formava uma harmoniosa composição.

Era uma flor desabrochando em volúpia. Era rosa. Rosa bela, rosa branca. Olhava com os olhos de uma amante exigente; os olhos presentes e inquietos. Mirando-se na água, apaixonava-se por sua imagem refletida.

Durante o banho, ela se acariciava como uma mãe zelosa. Aquelas primeiras carícias eram um gesto de amor. O acolhimento do filho faminto ao seio materno. Os braços enlaçando o seu corpo de fêmea como um refúgio e proteção. Fechava os olhos para se entregar inteiramente a esse deleite.

Era o desejo explodindo em sua carne.Uma perturbação a invadia por inteiro. Seu corpo ardia e um comichão corria pela espinha. Um doce cansaço a envolvia ao sentir a leve pressão de suas mãos. Eram cócegas provocadas pelo roçar dos dedos dentro de sua alma. A verdadeira fruição da liberdade.Soltou um espasmo, lânguido e longo.

Ela conseguira atingir o interior de si mesma. Conseguira explorar as suas mais profundas e secretas trevas.Não havia resistência. Havia apenas um alegre abandono. Uma febre que a libertava temporariamente. Mágica e ao mesmo tempo assustadora.

Deixou-se ficar abandonada na água, quieta; sentindo-se acolhida por aquele abraço morno durante um tempo. Levantou-se da banheira calmamente e vestiu o roupão. Era só ela. Nada poderia substituir esse encontro amoroso consigo mesma. Estava feliz. Liberta. Era isso que importava.