segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Uma noite de verão


Adele olhava impaciente a janela, apesar da noite quente e abafada convidá-la para uma apreciação do céu sem estrelas. À medida que o tempo ia passando, o seu nervosismo aumentava, tão grande era a ansiedade por encontrá-lo. A sua cabeça estava transtornada, seu corpo suava, as mãos estavam frias e as batidas do seu coração, aceleradas.

Pela janela, avistou um carro se aproximando do prédio. Assim que o reconheceu, ela desceu as escadas correndo. Sentiu um tremor desgovernado nas pernas, uma falta de ar, um terrível sufocamento.


Encontrou-o na entrada, quase na mesma hora em que ele ia chamá-la por interfone. Imediatamente eles se olharam e sorriram um para o outro. Depois de tanto tempo, eles finalmente se encontraram.

Andaram lado a lado sem pressa, falando de coisas banais até chegar o andar dela. Entraram na sala e pararam ao lado da porta. Ele se aproximou dela e tocou nos seus cabelos carinhosamente, brincou com uma mecha que insistia em cair nos olhos de Adele.

Olharam-se por alguns instantes. O brilho desse olhar era tão intenso quanto a chama azul do fogo. Eles podiam sentir essa chama consumindo-os por dentro, assim como a brasa consome lentamente um pedaço de madeira.

Era uma febre invadindo o corpo, entorpecendo os sentidos como o gosto acre da cachaça rasgando a garganta. A pimenta forte no céu da boca. As palavras foram desnecessárias para traduzir o que sentiam ou o que queriam naquele momento. Logo começaram a se beijar com voracidade.

Ela sentia o toque macio das mãos deles no seu corpo. A força dos seus braços quando ele enlaçava a sua cintura. O áspero e adocicado contato da sua língua na boca. Saboreava o beijo quente que incendiava a sua alma. Estava inebriada com o gosto daquele homem.

Braços, pernas, mãos se enroscavam, se tocavam, se acariciavam com ardor numa dança ritmada. Os movimentos eram criados na medida em que iam descobrindo e explorando o corpo do outro. Era a verdadeira fruição da liberdade.

E se entregaram a esse jogo até restar apenas o silêncio no quarto.